sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

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Deitei-me no chão, ao lado da cadela, pedi-lhe uma almofada e depois a outra e fiquei a contemplar a parede. Estava feliz, a parede. Ali e acolá uma lágrima ainda. Vista assim de baixo, a dimensão esticava barbatanas até perder de vista. O telefone fez ringue!! - Ringue?? Tocou duas vezes. Atendi. Era o Miguel Angelo a sugerir que aproveitásse o embalo e pintásse o tecto. Em tons mais claros. Que me arranjava uns anjos em segunda mão para preencher espaços provocatórios… Desliguei.

Estes bebedolas do Cosmos pensam que tenho a vida deles. Passado pouco tempo, estava eu a estudar uma hipótese de tecto Sistino, recebo um fax. Um fax, imaginem. Era uma folha enorme a divulgar um catálogo de Delacroix a vender jangadas! Dei uma vista de olhos maravilhado pela perfeição dos cromados. Parecia a mota do Ventura. Estava a escolher a melhor das Medusas quando o Melville atravessou a sala, roubou-me vinte e cinco tostões e enfiou a moeda na Jukbox para ouvir os Zeppelin, Moby Dick… Acordei  com alguém a bater à porta. Era o baterista a bombar. Despertei eram quatro da manhã. Fiz um café e tomei dois. Havia um farrapinho de dia a querer rasgar o horizonte. Fechei a janela. Comi um chocolate Jubileu de amêndoa que me afagou os sentidos. Acordei a Isquinhas, peguei nas tintas e fui pintar a paisagem que ainda não tinha despertado. Até duas  árvores  plantei no mar.

Ah, e um barco esquecido...

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