terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

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A resposta ficou a fumegar numa bela travessa de comida que aterrou na mesa. Era comida a mais para um pelintra pintor e três quilos de pessoa em cão. Em cadela, mais precisamente. - Eh, isto é comida a mais para a gente! - Se me dá licença, aproveito e janto convosco. Não é todos os dias que se pode trocar duas de tinta com um pintor de Paredes… Eh,eh,eh. Aproveito e junto duas de tinto que ia direitinho para a valeta dos esquecidos. - Como assim?? - Ah, era um vinho esquecido dumas vindimas em Vila Flor. Antes de o deitarem fora, provaram… 

Tinha uns vinte anos adormecidos em garrafões deitados. Eu que nem gostava de vinho… - Estou curioso, com fome e curiosamente com sede. Sente-se amigo, bem vindo à mesa dos crentes. Repito, a rádio na antena dois. Risos e sorrisos dos dois casais nas mesas mais ao lado. Uma senhora na cozinha, outra nos bordados de Arraiolos. Ruídos marinhos do outro lado das paredes. Havia ainda um matraquear monótono e mecânico que não conseguia identificar. - Diz-me Claudino, que som é este que parece abanar aqui a estrutura da casa? Ouve-se assim uma espécie de trepidar… - Ah, é o moinho a trabalhar!! - E para resposta imediata, passa o senhor padeiro pela nossa mesa, com um saco de farinha às costas e deseja-nos um bom apetite. - Bom apetite senhor pintor, sirva-se! - Baixei a cabeça e fiz a minha oração.

Estava num local mágico. Duas iscas de fígado voaram para debaixo da mesa e desapareceram num ápice. Fomo-nos servindo por entre o fumegar da travessa. Fomos conversando por entre o tilintar de vários brindes. - Vinho divinal Claudino! - Ia pelo rio abaixo. - A comida está de Reis, Claudino! - A minha avó foi cozinheira da Maria da Fonte! Eh,eh,eh. - Mais um brinde! Muita conversa interessante rolou entre os pratos. O jovem era uma promessa por onde todos os sonhos seriam possíveis. - é muito difícil pintar? - Ah, depende do tamanho das paredes… Belo repasto, belo espaço e belo momento de pura reflexão.

Paguei uma conta de quase nada, peguei na Isquinha ao colo e segui estrada fora a sorrir até casa...

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