segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

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Fomos quase correndo praia fora a fugir das pequenas ondas matreiras que cuspiam espumas brancas. Esta frase não deve passar na censura. Mas vou arriscar.

Um enorme pássaro atravessou o céu com um grasnar de D. Sebastião ainda perdido. Pelo tardio da passagem só podia ser uma abetarda. De aves percebo eu. E  de arroz de cabidela. Ainda não tinha chegado ao tasquinho, eu já ia vendo a ementa. A cadela saltava a morder as pulgas da areia. Três carros estacionados e a carrinha do pão… Sempre a carrinha do pão. Ambiente quente e acolhedor quando entrei. - Boas noites! - Boas noites! (disseram os sitiados da Garfaria). Sentei-me numa mesa individual, cadelita ao colo e olhei em volta. Duas mesas ocupadas por dois jovens casais, e perto da cozinha, as senhoras do costume, o tapete a descansar e a rádio ligada na antena dois! Que sossego.

O jovem pescador e fritador de peixe veio poupado na lista das comezainas. - Boas noites, senhor pintor e companhia. Ora, hoje temos massa à lavrador, ou, feijoada à lavrador. É só fazer a mistura na cozinha, ao seu paladar. Mas hoje é tudo à lavrador. - Pode ser ao seu gosto, jovem pescador. Ah, e se tiver uns óssinhos com tutano aqui para a minha grão Danuá, muito lhe agradecia. - Muito bem! Quer provar uma sangria inventada por mim, com cascas de pepino marinadas? - Hum, pode servir como um aperitivo interessante. Passados minutos o jovem, vamos chamar-lhe Claudino, o jovem Claudino veio sentar-se à minha frente com um cântaro de barro e uma colher de pau a misturar a poção mágica. Encheu dois copos, fez uma reza fictícia, brindámos e metade do líquido foi dentro. Hum. - Então? - Hum, parece-me bem bom! Receita tua, dizes? Está muito bom. Brindámos segunda vez e os copos ficaram vazios.

- E então? Como vai a pintura lá na casa da falésia?

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